O documento é assinado por nomes como Rafael Correa, ex-presidente do Equador, parlamentares, ativistas e professores universitários
Políticos e intelectuais de esquerda da América Latina publicaram uma carta para pressionar o candidato Ciro Gomes (PDT) a desistir da sua candidatura à presidência, em favor do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (PT), cofundador e principal líder histórico do Foro de São Paulo, criado em 1990 para reunir a esquerda latino-americana.
Os signatários da carta pedem que Ciro “repare o seu erro” e apoie a candidatura de Lula para “derrotar o fascismo”. No Brasil, a carta foi veiculada por sites de esquerda como a Revista Carta Capital.
O documento é assinado por nomes como Rafael Correa, ex-presidente do Equador e membro do Foro de São Paulo. Além dele, há uma lista de dezenas de parlamentares de partidos e movimentos radicais alinhados ao Foro, além de professores e ativistas de universidades.
O Foro de São Paulo foi criado por Lula e Fidel Castro, com a justificativa de refazer na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu com a dissolução da União Soviética. José Dirceu já fez referência à organização mais de uma vez, admitindo o que considerou um sucesso da esquerda no continente.
O PDT declarou não pertencer ao Foro de São Paulo, mas o nome do partido permanece na lista da organização. Em seu site, o partido de Ciro Gomes se orgulha de ter sido o primeiro partido brasileiro membro efetivo da Internacional Socialista, grupo marxista ortodoxo que coordenou, por mais de 100 anos, os movimentos comunistas pelo mundo. Leonel Brizola foi o primeiro brasileiro a presidir a organização internacional.
Leia a carta na íntegra e a lista de signatários:
Caro colega Ciro Gomes
Os abaixo assinados são militantes da esquerda latino-americana, profundamente anti-imperialistas e comprometidos com a emancipação de nossos povos e a criação da Grande Pátria. Somos também pessoas que amam e admiram o Brasil e seu povo; à cultura primorosa daquele país: sua música, sua literatura, suas pinturas, sua gastronomia, suas diversas manifestações artísticas e também a longa luta de seu povo para ter acesso a uma vida mais plena, espiritual e materialmente.
Sabemos que você foi um lutador pelas boas causas do povo brasileiro ao longo de sua vida. É por isso a perplexidade que nos leva a escrever-lhe esta carta e que nos move a enviar-lhe esta mensagem fraterna porque é incompreensível para nós, na atual situação brasileira, sua insistência em apresentar sua candidatura presidencial para o primeiro turno das eleições presidenciais eleições no Brasil, neste 2 de outubro, que sem o menor exagero pode ser considerado um ponto de virada histórico. Por quê? Porque a escolha fundamental não será entre Jair Bolsonaro e Luiz Inácio “Lula” da Silva, mas entre fascismo e democracia. E você, um homem político, inteligente e com larga experiência atrás de você, sabe muito bem que sua candidatura não tem absolutamente nenhuma chance de chegar às urnas, muito menos vencer no primeiro turno. A dura realidade é que, mantendo sua candidatura, caro camarada Ciro, a única coisa que você fará é dispersar forças, enfraquecer a força do bloco antifascista, com todas as suas contradições, facilitar a vitória de Bolsonaro e, eventualmente, abrir caminho para um novo golpe. Apesar de sua boa vontade, infelizmente você não está em condições de fazer nenhum bem, nenhum bem, e está em condições de causar grandes danos ao Brasil e ao seu povo. Você não será capaz de fazer o bem apesar de suas intenções porque suas chances de ganhar são zero. Ao enfraquecer a candidatura unitária de Lula, ao dispersar as forças do bloco que se opõe ao fascismo, o que você fará objetivamente (além de suas intenções, que não duvidamos são boas) será pavimentar o caminho para a perpetuação de Bolsonaro no poder.
Parece-nos que por causa de sua carreira você não deve entrar na história do Brasil por aquela porta indigna, como a de um homem que, tendo lutado pelas boas causas de seu povo e alcançado importantes resultados, em uma instância crítica e decisiva para seu país comete um erro e abre as portas para um processo que semeia morte e destruição em seu país e que, sem dúvida, também o terá como uma de suas vítimas. Não se pode ignorar a natureza perversa do atual presidente do Brasil. Suas palavras e promessas, mesmo aquelas que ele possa ter feito a você, são completamente inúteis. Bolsonaro é um personagem imoral, um fanático alucinado sem princípios morais que deixou mais de 700.000 brasileiros e brasileiras morrerem sem fazer o menor esforço para salvá-los. Ele também é um traidor em série, comparável apenas aos piores personagens de Shakespeare. E ele não hesitará por um momento em traí-lo assim que for conveniente para ele.
Ainda há tempo de reparar seu erro, companheiro Ciro. Dirija-se aos seus apoiadores agora e diga-lhes que a urgência da luta contra o fascismo não lhes deixa outra escolha a não ser apoiar a candidatura presidencial de Lula. Peça-lhes aquele voto, crucial para derrotar no primeiro turno o capitão (assim, com letras minúsculas) e seus esquadrões armados; crucial também para impedir a perpetuação no poder de um homem que exaltava a figura do canalha que torturou Dilma Rousseff. Você, por causa de sua história e de suas ideias, tem que fazer o impossível para impedir que uma figura tão monstruosa fique mais um dia no Palácio do Planalto. Além disso, devido à sua idade, não temos dúvidas de que ele continuará sendo uma figura de destaque na política brasileira. Que não é a vez dele, que as circunstâncias o obrigam a esperar. Não se esqueça que a paciência é um dos traços que definem os grandes líderes políticos.
Nada mais por enquanto. Esperamos que você aprecie o senso de solidariedade nesta mensagem. Receba um abraço fraterno de seus companheiros lutadores de toda a América Latina e Caribe.
20 de setembro de 2022
Primeiras adesões:
- Adolfo Perez Esquivel, Prêmio Nobel da Paz, Argentina
- Rafael Correa, ex-presidente do Equador
- Stella Calloni, jornalista, Argentina
- Raul Zaffaroni, ex-juiz da Suprema Corte, Argentina
- Atílio Boron, cientista político, Argentina
- Piedad Córdoba, Senador, Colômbia
- Amado Boudou, ex-vice-presidente da Argentina
- Gabriela Rivadeneira, ex-presidente da Assembleia Nacional, Equador
- Ferdinand Good Abbot, filósofo, México
- Ignacio Ramonet, jornalista, França/Espanha
- Ernesto Villegas, República Bolivariana da Venezuela
- Hugo Moldiz, ex-ministro, Bolívia
- Jaime Lorca, Fundação Memória e Futuro, Chile
- Xavier Lasso, jornalista, Equador
- Katu Arkonada, País Basco/Bolívia
- Jorge Lara Castro, ex-chanceler do Paraguai
- Hernando Calvo Ospina, cineasta, Colômbia
- Esteban Silva, professor universitário, Chile
- Maria Seoane, jornalista, Argentina
- Mempo Giardinelli, escritor, Argentina
- Juan Eduardo Romero, deputado do PSUV, Assembleia Nacional, Venezuela
- Alicia Entel, professora universitária, Argentina
- Gilberto Lopez e Rivas, antropólogo, México
- Daniel Jadue, prefeito de Recoleta, Chile
- Telma Luzzani, jornalista, Argentina
- Florence Saintout, presidente, Instituto Cultural da Província de Buenos Aires, Argentina
- Ramon Grossfogel, professor universitário, Porto Rico
- Mario Giorgi, Rádio UNDAV, Argentina
- Claudia V. Rocca, Filial Argentina da American Bar Association
- Maria Fernanda Barretto, escritora colombo-venezuelana
- Daniel de Santis, professor universitário, Argentina
- Jose Seoane, professor universitário, Argentina
- Paola Gallo Pelaez, co-presidente da MOPASSOL, Argentina
- Jorge Singer, Argentina
- Rodolfo Hamawi, professor universitário, Argentina
- Emilio Taddei, professor universitário, Argentina
- Julius Ferrer, jornalista, Argentina
- Juan Ramon Quintana Taborga, ex-ministro, Bolívia
- Andrea V. Vlahusic, Co-Presidente da MOPASSOL, Argentina
- Hector Bernard, jornalista, Argentina
- Maria Fernanda de la Quintana, jornalista, Argentina
- Jorge Elbaum, professor universitário, Argentina
- Carlos Lopez Lopez, Parlamentar do Mercosul
- Ana Maria Ramb, escritora, Argentina
- Pamela Dávila, jornalista, Equador
- Rafael Urrejola Ditborn, jornalista, Chile
- Paula Klachko, Professora Universitária, Coord. REDH/Cap. Argentino
- Henrique Morales, Coord. Movimento Pop Tzuk Kim, Guatemala
- Manuel Santos Iñurrieta, dramaturgo, Argentina
- Charles Bedoya, Coord. Latinad, Peru
- Alexia Massholder, professora universitária, Argentina
- Claudio Katz, economista, Argentina
- Marcelo Rodriguez, professor universitário, Argentina
- Mário Alderete, Argentina
- Graciela Josevich, AUNA Argentina
Veja vídeo:
Fonte: Brasil Sem Medo