Comitiva espera que após a visita haja abertura de mercado para outros produtos brasileiros, como carnes e frutas. Japoneses solicitaram informações sobre reformas em andamento no Brasil
Representantes de associações agrícolas e deputados federais que integram a missão brasileira na Ásia, liderada pela Ministra Tereza Cristina (Agricultura, Pecuária e Abastecimento), fizeram uma avaliação positiva das reuniões ocorridas no Japão. Para eles, as conversas da ministra com autoridades e empresários japoneses podem significar a abertura de mercado para carnes e frutas e novos negócios para os produtores brasileiros no futuro.
As reuniões foram realizadas entre quinta-feira (9) a domingo (12). Essa foi a primeira fase da comitiva à Ásia, que também terá reuniões na China, Indonésia e Vietnã.
O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado federal Alceu Moreira (MDB/RS), disse que os japoneses mostraram que não querem o Brasil apenas como competidor. Ele elogiou a forma serena e confiante que a ministra Tereza Cristina está conduzindo a missão.
“Eles querem garantia de segurança alimentar. Eles querem que o Brasil seja um país saudável e competitivo, celeiro de produção de alimentos e possam comprar o que desejam para suas comunidades”, disse. E acrescentou: “Não queremos o Japão apenas como clientes, mas como parceiros. Porque queremos que eles trabalhem os arranjos produtivos completos”.
O deputado federal Luiz Nishimori (PR/PR) ressaltou as conversas da ministra com o colega da Agricultura, Takamori Yoshikawa, sobre a abertura do mercado para importação de carnes in natura e abacate. “Tivemos uma excelente conversa sobre vários aspectos. Primeiro, a carne bovina que estamos querendo exportar e, segundo, a questão do abacate que poderia estender para várias outras frutas. Temos frutas tropicais, melão, manga e outros que podemos exportar para o mercado japonês”.
O deputado Luis Miranda (DEM/DF), diz que sentiu boa receptividade dos japoneses às pautas do Brasil. “Eles sabiam da pauta e da necessidade que temos da reciprocidade, afinal de contas o Brasil já abriu o mercado para a carne japonesa e falta o compromisso do Japão em abrir para a nossa carne atendendo ao nosso mercado. Então, já estava praticamente pronta essa pauta junto ao mercado japonês e consequentemente a ministra colocou as nossas necessidades e ficou bem claro o que esperamos do Japão”, avalia. Ele também considera que na China, o governo está pronto para abrir o mercado para o Brasil.
Para a deputada federal Aline Sleutjes (PSL/PR), os japoneses demonstraram grande interesse em investir na infraestrutura do Brasil e em aumentar a compra de produtos brasileiros. “Ao meu ver, a nossa missão está dando certo, estamos avançando bastante e acredito que na China, por ser nosso maior parceiro econômico, será ainda melhor, vamos avançar muito e conseguir alavancar o mercado para colaborar de uma forma muito intensa com o agronegócio brasileiro”, disse.
Setor agrícola
Para a diretora executiva da Associação das Empresas de Biotecnologia na Agricultura e Agroindústria (AgroBio), Eliane Kay, a missão foi importante para que os japoneses tenham segurança em investir no Brasil.
“Eles precisavam de uma manifestação oficial de como está a situação no Brasil, para eles se sentirem mais seguros, juridicamente, para investimentos ou para fazerem planos de longo e médio prazo”, afirmou.
Na avaliação de Gedeão Silveira Pereira, diretor de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os empresários japoneses aguardam as reformas, como a da Previdência, para ampliarem os investimentos.
“Eles reconhecem a importância do agronegócio, são clientes nossos, mas também conhecem as nossas dificuldades, que passam por fortes investimentos. Os investimentos do mundo capitalista só chegarão ao Brasil após um reconhecimento da estabilidade do país e das reformas que o Brasil tanto necessita”, disse, destacando o anúncio feito pela ministra, em Niigata, da abertura do mercado mexicano para o arroz brasileiro, antiga reivindicação dos produtores nacionais, em especial do Rio Grande do Sul.
Já o 2º vice-presidente de finanças da CNA e presidente da Federação de Agricultura do Amazonas, Muni Lourenço, aposta na ampliação das vendas de frutas e lácteos.
“Na CNA, temos uma perspectiva muito grande de ampliar mercados para frutas brasileiras, lácteos. Missões como esta são muito importantes para consolidar mercados, negociações e a imagem do produto do agronegócio brasileiro. Cada vez mais garantindo ao consumidor mundial a qualidade do alimento do Brasil para atender demanda mundial”, afirmou.
De acordo com o diretor executivo da Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Mário Von Zuben, os encontros com as autoridades retomam a reconstrução das relações Brasil-Japão. “Isso não é coisa que se faz do dia para a noite. Esses primeiros passos são importantíssimos para que o Brasil consiga abrir novos mercados e reabrir alguns mercados que foram perdidos no passado”.
Suco de laranja
O diretor executivo da Associação Nacional dos Exportadores de Suco Cítricos (Citrus/BR), Ibiapaba Netto, acredita que a missão poderá ajudar o setor no mercado japonês. Segundo Netto, desde que os japoneses assinaram um acordo bilateral com o México, que se tornou o principal parceiro comercial do Japão na América Latina, as vendas brasileiras de suco de laranja perderam espaço no mercado externo.
“Quando o governo avança em uma conversa que pode culminar lá na frente num acordo bilateral, a gente está recuperando um pouco do tempo perdido que aconteceu na diplomacia comercial nesses anos. No meu ponto de vista, foi fundamental essa visita”, relatou.
Netto garante que os produtos brasileiros têm condições de ser ofertado a um preço competitivo para os japoneses.
Em relação à China, segundo país a ser visitado pela comitiva, Netto disse que é a “nova fronteira”, já que o país aumentou em 183% o consumo de suco de laranja nos últimos anos. No entanto, conforme o diretor, as exportações de suco para os chineses mantiveram-se na faixa de 45 mil toneladas por ano, equivalente a US$ 100 milhões.
As processadoras brasileiras de suco de laranja sofrem com uma medida imposta pelos chineses. Se o produto chega à aduana com temperatura de até 18 graus Celsius negativos, a taxa aplicada é de 7,5%. Caso a temperatura seja inferior, a taxa aumenta para 30%. De acordo com Netto, essa sobretaxa dificulta a venda, pois o suco brasileiro fica mais caro.
“Já levamos essa demanda para o Ministério da Agricultura no ano passado e a equipe da ministra Tereza Cristina tem trabalhado duro com o governo chinês no sentido de esclarecer esses pontos técnicos, provando que isso não faz o menor sentido e que a gente tem interesse de fazer esses investimentos. Uma vez que isso se resolva abre-se um novo horizonte de consumo para o suco brasileiro”.
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