Por Suzano Almeida e Manoela Alcântara
Aos 35 anos e no segundo mandato, o parlamentar tem o desafio de unificar a Câmara Legislativa e mudar a imagem da Casa
A Câmara Legislativa começa 2019 com o presidente mais jovem desde a sua fundação, em 1991. Brasiliense, Rafael Cavalcanti Prudente (MDB) tem 35 anos e assume o cargo, nesta terça-feira (1°/1), com o desafio de buscar a unidade da Casa em meio à grande renovação e diversidade partidária: são 19 legendas representadas. Dos 24 parlamentares que integravam a sétima legislatura da CLDF, apenas sete se manterão no posto.
Rafael Prudente foi eleito com 17 votos. Ele é filho de Leonardo Prudente, deputado processado na Operação Caixa de Pandora que ficou conhecido por ter escondido dinheiro nas meias em um vídeo gravado pelo delator do esquema, Durval Barbosa. Rafael conseguiu se desvencilhar da imagem do pai e fazer carreira bem-sucedida até agora.
A partir desta terça (1°), o comando do próximo biênio terá a missão de mudar o verniz de uma Casa vista pela população como símbolo da velha política, da má administração do dinheiro público e de escândalos de corrupção.
A seu favor, Rafael Prudente tem um perfil apaziguador e de diálogo. Colegas que conviveram com ele nos últimos quatro anos o chamam de “conciliador” e acreditam que Rafael conseguirá comandar a Casa com tranquilidade no biênio 2019-2020. Especialmente por contar com o apoio do governador Ibaneis Rocha (MDB). A expectativa é que, ao menos neste início de gestão, as relações entre Executivo e Legislativo sejam harmônicas.
Infância em Goiás e em Brasília
Outra característica do novo presidente da CLDF são os laços com o Distrito Federal. Rafael Prudente nasceu em Brasília, filho de pai goiano e mãe pernambucana. Ainda pequeno, morou no interior de Goiás porque seu pai, o ex-deputado Leonardo Prudente, era geólogo e conseguiu um emprego no local. A outra parte da infância e toda a adolescência passou no Lago Norte, na casa da família.
Dos 3 aos 6 anos, morou em Campos Verdes (GO). Depois, foi com a família para Uruaçu (GO), onde fez pré-escola em uma instituição pública de ensino. Quando voltou para Brasília, cursou o ensino fundamental na escola Maurício Sales de Melo. Já o ensino médio concluiu no Leonardo da Vinci da Asa Norte.
Leonardo Prudente era dono de empresas em diversos segmentos, entre eles, o de eletrônica e o de segurança. Aos 15 anos, Rafael começou a trabalhar ao lado do pai, no almoxarifado de uma delas. Cresceu dentro da companhia até chegar ao cargo de direção. Passou pelo setor de entregas, pelos departamentos de compras e operacional.
Aos 22, assumiu o cargo de diretor comercial. Naquela época, formou-se em administração pelo Iesb e fundou a empresa Multi Segurança Eletrônica. Em 2014, deixou a sociedade para assumir o mandato de parlamentar.
Desde então, Rafael está afastado da vida empresarial, mas a família ainda tem uma série de companhias, como a 5 Estrelas Sistema de Segurança, que mantém negócios com o governo local. Somente com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), os contratos da 5 Estrelas, que tem como sócio Leonardo Prudente, cresceram de R$ 1,7 milhão, em 2010, para R$ 10,6 milhões, em 2018.
O novo presidente da CLDF é evangélico, porém, não frequenta uma igreja específica. Gosta de ir em templos do Gama e de Brazlândia. Também vai à Sara Nossa Terra, frequentada pelo pai. Ele é casado com Pollyanna Vaz Prudente, e o casal tem dois filhos: Rafael e Samuel. O deputado também pratica boxe para tentar corrigir a postura.
Corregedoria
Em sua estreia na política, em 2014, Rafael Prudente foi eleito deputado distrital, com 17.581 votos. Em 2018, foram 26.373. Dentro da Casa, ainda no primeiro mandato, Prudente teve papel de destaque.
Começou a carreira de deputado distrital sendo vice-presidente da Comissão de Orçamento e Finanças (Ceof). Em seguida, com a saída de Márcio Michel para o Tribunal de Contas do DF (TCDF), assumiu como corregedor, cargo responsável por fiscalizar a atuação e a conduta dos deputados distritais.
Prudente analisou, por exemplo, o caso que pedia a cassação da agora ex-deputada Liliane Roriz (Pros). Em 3 de outubro, deu parecer favorável ao processo contra a colega por improbidade administrativa. A alegação era de que havia, na Justiça Eleitoral, um processo em curso que exigia a perda do mandato de Liliane por falsidade ideológica e compra de votos.
O então corregedor seguiu todos os trâmites, prezando pelo respeito ao direito da ampla defesa e do contraditório. Em 19 de outubro, a Comissão de Ética da CLDF a absolveu.
A atuação parlamentar foi de destaque: segundo a assessoria do deputado, ele apresentou 116 projetos, sendo que 34 tornaram-se leis. Isso em três anos e meio de mandato.
Entre as leis de maior destaque, estão a de proibição de motores na parte dianteira dos ônibus, a de garantia de merenda diferenciada para crianças com intolerância à lactose nas escola públicas, a de criação de regras para o desmanche de carros no DF e a norma estabelecendo que todos os serviços do Departamento de Trânsito do DF (Detran/DF) sejam informatizados.
A última sessão
As habilidades de articulador do recém-eleito presidente da CLDF foram demonstradas na última sessão de 2018 na Casa. Em meio a uma confusão para que fosse colocado em pauta um projeto da agora ex-deputada Sandra Faraj (PR) o Escola Sem Partido, Prudente teve papel preponderante na resolução do problema. Mesmo sendo evangélico e da mesma bancada que Sandra, ele pediu cautela.
“Ele, apesar de ser voto a favor da Sandra, soube negociar, se posicionar e aceitar a vontade da maioria. É uma pessoa de conciliação, porém, firme”, ratificou o ex-presidente da Casa Joe Valle.
Outros integrantes da reunião contam que Prudente ponderou sobre a importância do tema e de discuti-lo com calma. Afirmou que não era o momento de atropelar a matéria. Só assim, houve um consenso de que a sessão para aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) deveria ser votada com prioridade.
Concorrente
O deputado Rodrigo Delmasso (PRB) pleiteou a presidência para 2019. Do mesmo grupo de Rafael, eles combinaram que o maior arrecadador de votos ocuparia o cargo. Delmasso conseguiu 8, Rafael Prudente, 16. Assim, eles entraram em acordo. “Houve uma composição. Fazemos parte do mesmo segmento, o evangélico, e ele cumpriu com o acordo do início ao fim”, relatou Delmasso. O deputado, então, se candidatou como vice na mesma chapa de Prudente.
Delmasso considera Prudente um deputado discreto, de articulação, com ideias centradas. “Todas as votações que ele se comprometeu a apoiar, cumpriu a palavra”, disse.
Hoje deputado titular, João Hermeto (PHS) foi suplente de Rafael Prudente e assessor de assuntos da Polícia Militar no Legislativo. Um dos nomes que o subtenente da reserva afirma sempre ter procurado é do colega emedebista.
“Ele é um jovem parlamentar de um futuro promissor, agregador, sabe escutar e cumpre a palavra. Ele sempre atendeu a PM e, como suplente dele, sempre fui bem atendido. Por isso, fui o primeiro a declarar apoio à candidatura dele à presidência”, contou Hermeto.
Em seu quarto mandato de distrital, Chico Vigilante avalia Rafael como uma pessoa tranquila, mas ainda prefere ver o colega atuando no comando da Casa antes de dar sua opinião sobre o emedebista.
“É um deputado muito tranquilo. Mas vamos ver na presidência. Ele é bem discreto”, ressalta Chico. “Com ele presidente, vamos manter a linha política, reforçando a independência da Casa, sem deixar atropelarem os prazos aprovando projetos às pressas.”
O mandato e a relação com o pai
Ao iniciar o mandato em 2014, Rafael Prudente teve o primeiro desafio: se desvencilhar da imagem do pai, o ex-distrital Leonardo Prudente. Em 2009, dois anos após o início de seu terceiro mandato, Leonardo tornou-se um dos símbolos da Operação Caixa de Pandora. Quando ocupava o cargo de presidente da Casa, um vídeo dele foi divulgado pelo delator do esquema de corrupção, Durval Barbosa.
Leonardo Prudente ficou conhecido como “o distrital das meias”, pois, na ocasião em que foi filmado, aparecia colocando dinheiro nos bolsos de suas roupas e até nas meias. O então deputado renunciou ao mandato antes de ser cassado. Hoje, é réu no processo da Caixa de Pandora.
Com as denúncias envolvendo o pai, Rafael assumiu o mandato, em 2014, sob clima tenso. Ele sempre adotou o discurso de que Leonardo era inocente, mas fez questão de manter distância política do genitor.
Tanto que, nesses quatro anos, o pai esteve na Câmara em apenas três ocasiões: na posse de Rafael e nas sessões de entrega de títulos honorários ao ex-deputado Odilon Aires e ao ex-secretário de Segurança Pública do DF Sandro Avelar.
Agora, o desafio é fazer com que a população se sinta representada pela nova composição da Câmara Legislativa, empossada nesta terça-feira (1°). Rafael afirma que está à altura da tarefa e, nos dois anos de mandato como presidente, espera, no fim de 2020, deixar o posto máximo da CLDF com a sensação de dever cumprido.
Fonte: Metrópoles