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25/11/2024
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Grupo apoia adolescentes com dificuldades relacionadas à sexualidade e gênero

Encontros acontecem quinzenalmente, sempre às quartas-feiras à tarde, com duas horas de duração.   

Lágrimas se misturam a sorrisos. Relatos tristes que são logo afagados por um abraço amigo. Histórias com contextos diferentes, mas com enredos que se assemelham. Assim é a atmosfera do Grupo da Diversidade, que ajuda adolescentes de 12 a 18 anos com dificuldades relacionadas à sexualidade e à identidade de gênero. A atividade é um dos braços do atendimento oferecido a este público dentro do Adolescentro.

Os encontros acontecem quinzenalmente, sempre às quartas-feiras à tarde, com duas horas de duração. A reunião é aberta, ou seja, não é preciso marcar consulta ou encaminhamento para participar.

Para muitos jovens, é um refúgio para os problemas enfrentados em casa, na escola, na sociedade. Para os profissionais, um método que ajuda a salvar vidas.

“Ninguém vem para o Adolescentro porque quer ser homossexual ou transgênero. Mas vem porque, em razão disso, passa por um sofrimento que pode levar à depressão, ideação suicida e automutilação”, observa a psicóloga da unidade, Paula Stein de Melo Sousa.

No encontro do Grupo da Diversidade, não é difícil encontrar adolescentes com marcas profundas próximas ao pulso e histórias de tentativa de suicídio.

“Minha mãe ora aceita minha opção sexual, ora não. Ela me trata diferente, não diz que me ama, me fala palavras duras e isso me machuca muito. Um dia, ela me tratou mal. Para completar, meu irmão veio e me bateu. Saí de casa com a roupa do corpo, descalça, com destino a uma passarela, de onde eu achei que me jogaria. Mas, no caminho, encontrei uma amiga da família que me deu um abraço e me levou para casa”, contou uma das meninas mais falantes do grupo.

MEDIAÇÃO – Além dos adolescentes, participam do grupo uma psicóloga, um médico e uma assistente social, que vão estimulando os jovens a fazerem relatos de suas experiências e avanços no processo de assumir a sexualidade ou a transição de gênero para a família e a sociedade.

O grupo tornou-se o centro deste atendimento, que conta, ainda, com consulta individuais e a participação da família. “A terapêutica a ser usada é avaliada caso a caso, e o adolescente tem participação na escolha do que será feito. Podemos começar conversando só com o adolescente, ou chamar primeiro a família, ou ir direto para o grupo”, destaca Paula Stein.

Entender o processo e enfrentar tudo sozinho pode ser mais complicado. “É difícil entender o que se passa dentro da gente e mais difícil ainda explicar isso para alguém. À minha volta, as pessoas acham que estou bem, mas eu sei que não estou”, disse um dos participantes, pela primeira vez no grupo.

A resposta da assistente social, Ana Miriam, foi enfática: “É possível melhorar sempre e resolver a situação. Procure ajuda. A gente quer trazer a família para conversar, contextualizar. E vocês precisam entender que, para os parentes mais próximos, essas mudanças também não são fáceis e ela precisa entender, assimilar”.

FAMÍLIA – Mas a compreensão da família nem sempre é fácil. Que o diga Clarisse*, 17 anos, uma menina trans que achava que era gay, mas no ano passado descobriu que gostava mesmo era de usar vestido, salto alto e maquiagem. O pai aceitou numa boa. Já a mãe… “Ela insiste em dizer que sou um menino, me chama pelo meu nome de registro. De tanto ficar mal quando estava com ela, acabei indo morar com meu pai”, conta.

A posição da menina é firme. “Lutei para trocar meu nome civil pelo nome social na escola e fazer com que os professores me chamassem de Clarisse* e se referissem a mim como uma menina mesmo. E consegui, inclusive, mudar o comportamento dos meus colegas de sala, que me apoiam e me defendem”, conta a jovem, que pretende estudar artes cênicas e teatro.

Firmeza, aliás, é algo que esses jovens precisam ter. “Depois de muito sofrer, decidi que quero ser feliz e viver”, disse Lucas Miguel Epaminondas, que logo que completou 18 anos, já trocou seus documentos e começou a fazer a transição com tratamento hormonal.

“Quatro meses de hormônio e não sou mais confundido com uma mulher e isso é muito bom”, comemora o jovem trans, que já aponta um bigode desejado por outros meninos trans participantes do grupo.

Mas chegar a esta conquista não tem sido fácil. “Meus pais não aceitam. E o pior é que preciso morar com eles. Passo a noite em claro, sofrendo com isso. Mas estou batalhando para mudar. Havia parado de estudar e agora voltei e quero fazer um curso técnico de enfermagem”, conta.

Para ele, a verdadeira família é o Grupo da Diversidade. “Tenho certeza que se não fosse por este grupo eu já teria me matado. Entrei aqui aos 16 anos, quando não entendia a minha vida. Fiquei dois anos sem estudar porque estava em depressão. Aqui consigo me expressar melhor e receber apoio”, conta Lucas.

O jovem trans relata que sempre se sentiu diferente das meninas da sua idade, mas a família era conservadora e ele não tinha liberdade para conversar. “A puberdade foi chegando e eu me olhava no espelho e não me reconhecia. Aos 11 anos eu já sabia o que eu não queria ser”, relembra Lucas.

ATENDIMENTO – O Grupo da Diversidade nasceu em 2015. De lá para cá, mais de 200 adolescentes já foram atendidos, sendo 26 em transição de gênero. “Desde o ano passado, aumentou a procura. No DF, somos o único serviço de saúde que oferece este atendimento”, conta a psicóloga.

Somente no último encontro, realizado em 13 de março, cerca de 25 jovens participaram da reunião, muitos deles indo pela primeira vez e convidados por adolescentes que já participam.

“Aqui não incentivamos ninguém a mudar a orientação sexual ou de gênero. Oferecemos atendimento profissional, com um grupo formado por médico de família, assistente social e psicólogo. Damos apoio a toda a rede envolvida com esta pessoa, como pais e escola”, explica o médico do grupo, Luiz Fernando Marques.

Para ser atendido, o adolescente pode ir, sozinho ou acompanhado por um responsável, ao Adolescentro, de segunda a sexta-feira (exceto terça pela manhã), para acolhimento. “É neste acolhimento que será dado o encaminhamento para a melhor terapêutica a ser utilizada”, explica Paula Stein.

São atendidos na unidade jovens entre 12 e 17 anos de idade. Ao completar 18 anos, ele é encaminhado ao Ambulatório Trans, localizado no Hospital Dia.

*Nome fictício por se tratar de menor

Acesse aqui a galeria de imagens desta pauta.

Fonte: Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde / (61) 2017 1111

Redação
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