Procedimento dessa especialidade foi o primeiro realizado pelo SUS
A paciente, operada no Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), na primeira cirurgia do Brasil para tratar diabetes do tipo 2 pelo Sistema Único de Saúde (SUS), se recupera bem do procedimento, realizado nesta terça-feira (25). Consciente, ela respira espontaneamente, sem ajuda de aparelhos. O estado de saúde foi divulgado, nesta quarta-feira (26), pela Secretaria de Saúde.
“A paciente está muito bem e muito feliz por fazer a cirurgia, trazendo muita esperança a todos os que possuem diabetes do tipo 2”, afirmou o secretário de Saúde, Osnei Okumoto. “Estamos trabalhando cada vez mais para inovar e incorporar novas tecnologias, para dar as melhores condições possíveis a esses pacientes”, ressaltou.
O método entrou para a história da saúde pública do Distrito Federal por ser a primeira cirurgia metabólica do Brasil, realizada pelo SUS, para tratar diabetes do tipo 2. O procedimento é relativamente simples, feito por videolaparoscopia, e durou pouco mais de 40 minutos.
Internada na Enfermaria do HRAN, a paciente está recebendo medicamentos para dor, dieta líquida e aguarda para receber alta. De acordo com o médico e coordenador do Serviço de Cirurgia do Diabetes do DF, Ricardo Teixeira, a partir de hoje, ela não precisar mais usar insulina.
Como a intervenção é minimamente invasiva, a recuperação costuma ser rápida. “Amanhã (27) de manhã, a paciente vai voltar para casa. Nos próximos 15 dias, não poderá fazer nenhum esforço físico”, informou Teixeira.
“Depois da cirurgia, a equipe multiprofissional do HRAN continuará acompanhando a paciente por, aproximadamente, um ano, no ambulatório do HRAN”, reforçou a secretária adjunta de Assistência à Saúde, Renata Rainha. O grupo é formado por nutricionistas, endocrinologistas, clínicos gerais e psiquiatra. Há, ainda, uma equipe de apoio, composta por cardiologistas, pneumologistas e oftalmologistas.
Os especialistas asseguram que a cirurgia é efetiva para tratar o diabetes do tipo 2 e muito segura. Assim, será possível evitar mortes, sequelas, infarto e diminuir o custo dos medicamentos que esses pacientes usam a vida toda. Conforme os dados do Ministério da Saúde, são gastos em torno de R$ 1 bilhão, por ano, somente com medicamentos contra a doença.
FLUXO – Renato Teixeira explicou que o fluxo para realizar a cirurgia do diabetes tipo 2 começa na Atenção Primária, onde esses pacientes são acompanhados por seus médicos de família e comunidade, e preenchem um formulário para o serviço.
Ao cumprir os critérios para realizar o procedimento, o paciente é encaminhado para a Regulação. Passando pela lista de espera, há o preenchimento de um segundo formulário, por uma equipe multiprofissional, que avalia se a pessoa está apta para a intervenção.
“A equipe avalia o paciente como um todo, não só o diabetes. Detecta aspectos nutricionais, psiquiátricos, clínicos. Se for comprovado que o tratamento clínico não teve êxito e a equipe aprovar, o paciente vai para a cirurgia. Se detectarem que não é necessário, o paciente volta para a Atenção Primária”, esclareceu Teixeira.
CRITÉRIOS – De acordo com o especialista, há alguns critérios obrigatórios para o paciente ser considerado apto a fazer a cirurgia do diabetes tipo 2. Entre eles, é possível destacar: o diagnóstico comprovado da doença, excluído a do tipo 1; comprovação de que o tratamento clínico não surtiu efeito por dois anos contra a doença; ter até 70 anos de idade; e exclusão de contraindicações, como doenças que possam afetar, de alguma forma, a recuperação pós-operatória.
PROCEDIMENTO – Na cirurgia, o estômago é cortado em duas partes. Depois, o intestino é cortado em forma de Y e uma dessas partes é ligada ao estômago. Assim, o alimento é desviado para mais próximo do final do intestino.
De acordo com o cirurgião, o paciente com diabetes do tipo 2 é beneficiado quando o trânsito do alimento é desviado do estômago direto para o final do intestino. Lá, é produzida a substância incretina, que atua no pâncreas e o faz produzir insulina mais rápido, reduzindo os níveis de glicose no sangue.
“Nossa ideia é fazer, pelo menos, seis cirurgias por semana no Hran, duas por período (manhã e tarde). Nesse primeiro momento, teremos uma quantidade menor porque estamos preparando os pacientes, mas, assim que as filas estiverem completas, vamos dar o direcionamento”, explicou o superintendente da Região de Saúde Central, Luciano Almeida.
VANTAGENS – Entre as vantagens oferecidas pela cirurgia estão um controle efetivo dos níveis de glicemia; diminuição importante da mortalidade, doenças renais, cegueira, amputações e custos para o SUS; na maioria dos casos, representa uma retirada dos medicamentos, incluindo insulina; além do aumento na qualidade de vida do paciente e sua reinserção na vida social saudável.
Antes, o procedimento era realizado no Brasil apenas como pesquisa e de forma experimental, na rede privada. Contudo, em 2018, o Conselho Regional de Medicina (CRM), pela Resolução n° 2.172, autorizou a inserção do tratamento cirúrgico para o diabetes.
DIABETES – É uma doença caracterizada pelo aumento dos níveis de glicose no sangue, sendo a primeira causa de morte não traumática no mundo. Existem o tipo 1 e o tipo 2 da doença. No tipo 1, a pessoa já nasce com ela devido a alterações no pâncreas. No tipo 2, a pessoa adquire a doença devido, geralmente, à predisposição e associação à obesidade.
A prevalência de obesidade, no Brasil, é de 10%, afetando cerca de 450 mil pessoas no Distrito Federal e Entorno, e atingindo cada vez mais as crianças. O diabetes do tipo 2, ao contrário do que muitos pensam, tem mortalidade e sequelas maiores do que o do tipo 1.
No Brasil, a cada mil pessoas com diabetes do tipo 2, 27 morrem, por ano, de infarto do miocárdio. Metade das pessoas com diabetes do tipo 2 vão desenvolver doença renal grave. Aproximadamente, 80% das pessoas em hemodiálise têm diabetes. Além disso, um paciente, a cada dez, terá comprometimento grave da visão. A amputação é 20 vezes mais comum em pacientes com diabetes.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou estado de epidemia para a doença, devido ao grande aumento no número de casos diagnosticados por ano, sendo projetado um aumento de cerca de 70% em 15 anos se nada for feito.
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Fonte: Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde / (61) 2017 1111