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03/05/2024
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Relatos da violência: Quando a Saúde se torna protagonista na vida das mulheres

Com ajuda do Programa de Atenção a Vítimas de Violência, mulheres vencem o medo e se recuperam das consequências

 “Ele escondia comida, a chave da casa, não me deixava andar no carro que eu ajudei a comprar. Meu celular tinha rastreador e até de madrugada ele ficava me vigiando, ao lado da cama, em casa. Isso começou a refletir no meu trabalho, na minha saúde, mas eu não saia do relacionamento porque acreditava que ele ia mudar”.

O depoimento é de alguém que resolveu dar um basta antes que o pior acontecesse. Mas, ainda com medo de que as ameaças virem realidade, ela prefere se esconder atrás de um nome fictício: Lorena. Dos dez anos vivendo ao lado do marido, oito foram cheios de episódios de violência psicológica.

Mesmo com todo o sofrimento e com condições financeiras para viver sem o marido, ela não teve coragem de denunciar a violência, e permaneceu em silêncio. Mas sua tristeza transparecia tanto que, numa ida a um dos Programas de Atendimento a Vítimas de Violência (PAV) da Secretaria de Saúde, para acompanhar o atendimento de outra pessoa, uma das psicólogas do local conseguiu identificar indícios da agressão sofrida em casa.

E foi aí que as coisas começaram a mudar. “Com a ajuda dos profissionais do PAV, eu me senti segura para sair de casa. Eles nunca me incentivaram a me separar, mas me orientaram que o pior poderia acontecer”, conta ela, lembrando-se do dia em que teve a chance de juntar algumas peças de roupa e sair de casa com a filha pequena do casal, mesmo ouvindo as ameaças dele. “Era constante a fala ‘se você fizer isso, você vai ver o que sou capaz de fazer’”.

“Conheci os meus direitos. Soube mais sobre o ciclo de violência e, por meio do programa, me senti amparada e consegui, finalmente, tomar a decisão de encerrar este ciclo”, destaca Lorena.

Hoje, ela ainda sofre os efeitos de tudo o que passou, como episódios de ansiedade, mas diz já conseguir sentir o gostinho da liberdade de chamar visitas em casa, comer o que quiser e trabalhar sem medo. “Não estaria conseguindo se não fosse por Deus e pelo trabalho dos profissionais do PAV. Aprendi a identificar os sinais de violência por meio de terapias, conheci a Lei Maria da Penha e isso me empoderou”, ressalta.

REDE – A Secretaria de Saúde oferece às pessoas em situação de violência atendimento especializado, em uma abordagem biopsicossocial e com equipe multidisciplinar. “Os profissionais que atuam nesses serviços trabalham diferentes metodologias, seja em grupo ou com abordagem individual e multifamiliar, que auxiliam as pessoas a resignificarem as experiências para a superação”, explica a enfermeira do Núcleo de Estudos e Programas na Atenção e Vigilância em Violências, Daniela Magalhães.

O serviço, na saúde pública do DF, é o projeto Flores em Rede, em que os programas de atendimento a vítimas de violência recebem nomes de flores. O serviço está distribuído pelas sete regiões de saúde. Mas as mulheres vítimas podem procurar, também, a unidade básica de saúde mais próxima de casa.

“Atualmente, todos os profissionais que atuam nas equipes de Estratégia Saúde da Família estão sendo capacitados para atender esses casos. Temos um processo contínuo de educação dos profissionais de saúde para qualificar o atendimento e tornar a rede de saúde, como um todo, um espaço de apoio e proteção para mulheres vítimas de violência”, diz a psicóloga e gerente de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde, Fernanda Falcomer.

Até o momento, os PAVs do DF receberam 1.625 notificações de violência, sendo que, desse total, 1.228 casos foram praticados contra pessoas do sexo feminino. “Entre janeiro e abril deste ano, foram atendidos nove casos de violência sexual e doméstica, por dia, em toda a rede, seja na Atenção Primária, nos hospitais e nos PAVs, principalmente”, destaca Falcomer.

Estes atendimentos ajudam a diminuir as estatísticas de feminicídio no DF. Mas os dados são alarmantes. Nestes primeiros cinco meses do ano, já foram registradas 14 mortes de mulheres vítimas de homens que não aceitaram o fim do relacionamento e/ou já mantinham ciclos de violência contra elas.

SUPERAÇÃO – Procurar por ajuda para tentar romper o ciclo de violência é um dos passos para evitar que o pior aconteça. “O enfrentamento à violência se faz em rede. Temos, enquanto Saúde, um papel fundamental neste processo, principalmente no que tange ao cuidado especializado à saúde e à recuperação e reabilitação biopsicossocial. Mas precisamos estar integrados com os outros órgão para oferecer uma intervenção integral que una a denúncia, o atendimento e a responsabilização”, observa Daniela Magalhães.

Ela destaca que a Saúde tem parceria com diversos outros órgãos, como Secretaria da Mulher, da Segurança Pública, Ministério Público e Tribunal de Justiça. E foi por meio dessa rede que Dayana chegou ao PAV, da Saúde, e ao Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam), da Secretaria da Mulher.

Quem olha para ela, hoje, aos 37 anos, com uma beleza juvenil, muito bem vestida e maquiada, mãe de uma menina de 14 anos e de um rapaz de 18 anos, não imagina tudo o que Dayane passou. Sofreu agressões físicas, foi privada do direito de trabalhar, estudar e visitar familiares. E mesmo depois de sair de casa, o ex ainda agia como se ela fosse posse dele.

“Um dia, pensei em me matar, porque mesmo eu fora da relação, ele não me deixava em paz. Denunciei. Ele foi preso por descumprir a medida para não se aproximar de mim, mas foi solto um mês depois. Tive depressão, síndrome do pânico e fibromialgia. E a Justiça me encaminhou para o Ceam e para o PAV”, relembra, ainda demonstrando sinais de ansiedade.

Mas Dayana preferiu sair do papel de vítima e assumir o protagonismo da sua história. “Juntas somos mais fortes e, por isso, resolvi contar minha história para ajudar outras mulheres a enfrentar e sair da situação de violência”.

Mesmo nas adversidades, conseguiu estudar. “Fazia curso técnico de enfermagem e, quando ele soube, mandou cortar a energia da casa para eu não conseguir estudar. Mas eu consegui”, conta ela, orgulhosa por não só ter terminado o curso, mas por ter sido aprovada no concurso da Secretaria de Saúde.

“Fui lotada no Centro de Atendimento Psicossocial, mas pedi para trabalhar em um dos PAVs, porque queria ajudar outras mulheres. Hoje, ajudo a humanizar os espaços de atendimento”, conta Dayana, que também tem um projeto voluntário para levar às mulheres a visão principal de que o amor não machuca. “Não quero que as mulheres deixem chegar até onde eu deixei. E muito menos que morram”, finaliza.

EDUCAÇÃO – Recentemente, houve a publicação de uma lei distrital que determina que as escolas públicas do DF apresentem noções básicas sobre a Lei Maria da Penha. O conteúdo deverá ser abordado de modo transversal aos conteúdos comuns. “Iniciativas assim são de extrema relevância se quisermos tratar com seriedade a temática. É preciso falar sobre gênero, masculinidades tóxicas com nossas crianças e adolescentes”, destaca Daniela Magalhães.

Violência contra o sexo feminino no DF em 2019

Violência física – 401

Psicológica – 177

Tortura – 20

Sexual – 333

Tráfico de seres humanos – 3

Financeira/econômica – 9

Trabalho infantil – 3

Negligência e abandono – 40

Intervenção legal – 4

Não sofra em silêncio.

Não permita que alguém seja vítima perto de você.

Denuncie. Ligue 180 ou 190.

Confira aqui a rede de atendimento dos PAVs da Secretaria de Saúde

Alline Martins, da Agência Saúde

Fotos: Mariana Raphael – Saúde/DF

Edição: Fábio Magalhães

Projeto gráfico: Danielle Freire

Revisão: Luciene Assis

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Fonte: Assessoria de Comunicação da Secretaria de Saúde / (61) 2017 1111

Redação
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