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27/04/2024
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Novo Presidente do BRB: “Vamos garantir que tudo possa ser apurado”

Por Lilian Tahan e Manoela Alcântara

No dia em que a Justiça Federal tornou réus 17 denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) no âmbito da Operação Circus Maximus, o novo presidente do Banco de Brasília (BRB), Paulo Henrique Costa, falou pela primeira vez, em entrevista exclusiva ao Metrópoles, sobre as medidas que a nova administração do BRB tem adotado para contornar a crise aberta na gestão anterior.

Nessa sexta-feira (8/3), Costa afirmou que desde o início da diligência do MPF o banco se colocou à disposição para abrir todos os dados que possam ser relevantes ao trabalho dos investigadores. “Contratamos uma empresa de auditoria para conduzir investigação forense em cima de todas as operações de crédito, de investimentos e de captação de recursos das seis empresas que compõem o grupo BRB. A abrangência da auditoria será entre janeiro de 2013 e janeiro de 2019”, anunciou Paulo Henrique.

Segundo o presidente do banco, a nova gestão está atuando junto à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal e à Justiça no sentido de fornecer informações estratégicas que possam ajudar os órgãos competentes a prosseguirem nas investigações da Circus Maximus.

Os procuradores federais alcançaram um esquema criminoso de desvio de recursos do BRB envolvendo a cúpula da instituição financeira durante o governo de Rodrigo Rollemberg (PSB).

“Vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance porque temos a obrigação com nossos clientes e correntistas de recuperar o que tiver sido comprovadamente desviado”, garantiu.

De acordo com denúncia do MPF, os agora réus da Circus Maximus são responsáveis por movimentação financeira duvidosa que teria repercutido no desvio de até R$ 348 milhões da instituição. Somente em propinas, os investigadores estimam perdas de R$ 40 milhões – o montante teria sido usado para facilitar a condução de negócios privados com prejuízo para o banco público.

“Um novo BRB está sendo construído. O que queremos deixar muito claro é o nosso novo padrão de transparência, governança e meritocracia”, ressaltou Paulo Henrique.

Mestre pelas universidades de Birmingham, na Inglaterra, e Kellogg School of Management, nos Estados Unidos, Paulo Henrique Costa acumula 20 anos de experiência no mercado financeiro.

Antes de assumir o BRB, exerceu diversas posições gerenciais na Caixa Econômica Federal entre 2001 e 2018, chegando ao cargo de superintendente nacional de Administração de Risco Corporativo da instituição.

O abacaxi que o executivo encontrou em Brasília não é o primeiro que teve de descascar ao longo de sua carreira. Nesta entrevista ao Metrópoles, Paulo Henrique revela que esta é a quarta experiência dele com gestão de crises em instituições financeiras: “Em outros episódios, cheguei também em momentos difíceis, mas trabalhei para resolver e virei um especialista”.

Confira a entrevista:

Metrópoles: A Justiça tornou rés 17 pessoas investigadas no âmbito da Operação Circus Maximus, que apura fraudes milionárias no BRB. Como o banco se posicionará?

Paulo Henrique: Estamos tomando providências desde a deflagração da operação. Contratamos uma empresa de auditoria para conduzir investigação forense em cima de todos os contratos de operação de crédito, de investimentos e de captação de recursos nas seis empresas do grupo BRB. Uma segunda medida, que também terá o apoio de uma auditoria independente, é no sentido de entender todo o contexto operacional, trabalhista, contábil, tributário e legal do banco neste período sob suspeição.

Uma terceira iniciativa será a busca da B3, principal indicador da Bovespa, para que o BRB possa adotar padrão de governança que já existe em estatais. Dessa forma, a gente presta contas e mostra a perseverança por um novo processo de transparência. O resultado será a certificação do Banco de Brasília.

Também revisamos nossa estrutura para criar uma área de corregedoria. Este é o espaço interno de onde vamos acompanhar de perto procedimentos e colher informações sobre possíveis desvios de conduta em nosso corpo funcional.

Acredita que será possível recuperar para o BRB as quantias desviadas apontadas pela Circus Maximus?

A partir do acatamento da denúncia, vamos procurar o MPF para nos habilitar como assistente de acusação. Assim, poderemos fortalecer as informações fornecidas a esses órgãos para chegar ao ponto de recuperar eventuais perdas que tenham sido provocadas por esses fatos investigados, tanto para clientes como para o próprio banco.

O senhor está disposto a abrir dados espontaneamente para o MPF e a Justiça?

Tomamos essa medida imediatamente, assim que a operação foi deflagrada.

Desde então, o BRB montou um gabinete de crise?

Montamos um gabinete de crise naquele momento da operação e, agora, estamos constituindo um comitê de investigação forense, que terá representantes do banco e externos, inclusive da Procuradoria-Geral do DF, para nos ajudar na apuração. Esse comitê vai ser o principal elo com os investigadores e órgãos de controle.

O senhor assumiu o BRB em meio a uma grave crise deixada pela administração que o antecedeu? Está assustado?

Esta é a quarta oportunidade, nos últimos 20 anos, que chego a algum cargo de instituição financeira justamente em um momento de crise. O que sempre fiz foi me deparar com o cenário, entender a situação e trabalhar fortemente para resolver. A primeira vez foi no Banco Panamericano, a partir de uma fraude detectada em 2010. Assumi a posição de diretor de Controle e Risco com o objetivo de identificar a fraude ocorrida, as pessoas envolvidas e quantificar o que tinha acontecido.

A segunda foi como diretor da Caixa. Eu era o responsável pela área de controladoria e passamos a trocar informações com uma auditoria independente, visando apurar suspeitas envolvendo etapas da Operação Lava Jato. Depois, como conselheiro fiscal da Fundação dos Economiários Federais (Funcef), contribuí para melhorar a governança e identificar fatos ocorridos no âmbito da Operação Greenfield. Portanto, o desafio é grande, mas não é o primeiro. Temos plenas condições de dar a volta por cima e fazer o banco sair desta crise maior do que entrou.

Quais as providências que efetivamente já tomaram no sentido da recuperação?

Sobre toda esta crise, é necessário apurar, identificar os responsáveis, entender as condições em que os eventos investigados ocorreram, para que possamos rever nosso sistema de controle interno, nosso código de conduta. Estamos adotando um programa de ética e integridade, de combate à corrupção, para que possamos, inclusive, recuperar recursos eventualmente desviados do BRB.

Mas precisamos também olhar para frente, limpar essas questões, ter certeza de que esses fatos não vão ocorrer novamente e construir um novo BRB. Precisamos estabelecer um padrão ético, de integridade e de forma de atuação, para que possa cumprir seu papel de banco público. Para que possa exercer atitude de protagonista no desenvolvimento econômico-social do DF. Ter um banco público é um diferencial muito grande para uma região. O que a gente quer é reescrever um BRB mais forte, mas ágil, mais moderno, capaz de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Que seja motivo de orgulho e de referência.

Com a Operação Circus Maximus, houve fuga de investidores ou correntistas?

Todos os nossos negócios continuaram a funcionar com plena normalidade. Todos entenderam que um pequeno grupo não reflete a maioria dos empregados do BRB. Continuam acreditando em uma instituição saudável e íntegra.

Temos recebido o apoio importante de empregados. E é com este time que pretendemos passar a limpo esta instituição. Estamos empenhados em reduzir a influência política com foco numa gestão técnica.

Semana passada, iniciamos o primeiro processo seletivo com ajuda de uma empresa independente de headhunter para selecionar um diretor de carreira. É o primeiro de outros processos seletivos que virão, não só para o nível de diretor, mas para funções mais baixas. Inauguramos um novo padrão de transparência, governança e meritocracia.

Fonte: Metrópoles

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