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27/11/2024
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Rodrigo Maia: ‘ACM Neto entregou a nossa cabeça numa bandeja para o Planalto’

Em entrevista ao 'Valor', ex-presidente da Câmara acusa o presidente do DEM de traição e falta de caráter e confirma que vai pedir a desfiliação do partido

Em entrevista ao ‘Valor’, ex-presidente da Câmara acusa o presidente do DEM de traição e falta de caráter e confirma que vai pedir a desfiliação do partido

O ex-Presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia criticou o presidente do DEM, Antonio Carlos Magalhães Neto,  “um amigo de 20 anos”, de traição por não apoiar o nome de Baleia Rossi (MDB/SP) na disputa pelo comando da Casa, vencida pelo  candidato governista Arthur Lira (PP/AL). “Mesmo a gente tendo feito o movimento que interessava ao candidato dele no Senado (Rodrigo Pacheco/DEM/MG), ele entregou a nossa cabeça numa bandeja para o Palácio do Planalto”, afirma o parlamentar em entrevista publicada no “Valor”  desta segunda-feira.

Maia confirmou que irá pedir sua desfiliação do DEM ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)  “sem pressa ou briga”, porém, não adiantou para qual legenda deve migrar.  “Estarei num partido que será de oposição ao presidente Bolsonaro”, afirma.

PSDB, PSL e Cidadania já convidaram o parlamentar para integrar os seus quadros. Na noite deste domingo, Maia se reuniu com o governador de São Paulo, João Doria, em São Paulo. De acordo com o colunista Lauro Jardim, o tema do encontro  era a construção de uma grande aliança de olho nas eleições presidencias de 2022 e, claro,  o convite para Maia ingressar no partido.

Ao “Valor”, Maia disse ainda que o movimento conduzido por ACM Neto, de aproximar o DEM  do governo Bolsonaro, faz com que o partido volte para “extrema direita dos anos 1980”. Ele ainda criticou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, de trabalhar nos bastidores pela aproximação com os rivais durante o processo eleitoral na Câmara. “Foi um processo muito feio do Neto e do Caiado. Ficar contra é legítimo, falar uma coisa e fazer outra não. Falta caráter, né?”

Confira outros trechos da entrevista:

Retrocesso do DEM

“Trabalhamos a mudança de posicionamento do então PFL até virar DEM em 1995 para tirar a pecha do DNA originário da Arena e se transformar num partido de fato de centro, centro-direita no máximo. O grande problema é que o partido voltou ao que era na década de 1980, para antes da redemocratização. O DEM decidiu majoritariamente por um caminho, voltando a ser de direita ou extrema-direita, que é ser um aliado do Bolsonaro. O projeto do DEM acabou. O Luciano Huck estava 90% resolvido a se filiar ao DEM, se decidisse ser candidato. Não descarto nem a hipótese de o Bolsonaro acabar filiado ao DEM”.

Luciano Huck

“Pelo que ele pensa, pelo que a gente conversa,  para mim, ele é mais centro-direita… Claro, pelo setor que ele trabalha, é mais de esquerda, artistas. Mas, na economia ele com certeza é um liberal, pensa em menos intervenção do Estado. E na área social, como diz – dizia – o ideário do DEM, é a prioridade por justiça social”.

Traição de ACM Neto

“Não conversei mais com o Neto. Diferentemente do que ele imagina, na verdade o que o Bolsonaro conseguiu foi quebrar a nossa coluna, que era toda acordada, de que nunca estaríamos no governo Bolsonaro e nunca apoiaríamos o Bolsonaro. Isso eu ouvi do presidente ACM Neto centenas de vezes. A direita está no DNA dele, mas sem o talento do avô (Antônio Carlos Magalhães) e do tio (Luiz Eduardo Magalhães), que nunca teriam feito o que ele fez. Não podia imaginar que um amigo de 20 anos ia fazer um negócio desses.”

Oposição a Bolsonaro

“Ainda não estou decidindo para qual partido eu vou. Apenas quero deixar claro para os que me acompanham e acompanharam meus quatro anos e sete meses à frente da Câmara que não sou um vendido, que tenho caráter. Estarei num partido que será de oposição ao presidente Bolsonaro. Vou pedir minha saída no TSE, não tenho dez anos. Não vou brigar com ninguém. Estou fazendo crítica política. Hoje posso dizer que sou oposição ao presidente Bolsonaro. Quando era presidente da Câmara, não podia dizer”.

Vitória de Lira

“Nunca fiquei esperando o Supremo (decidir sobre a reeleição). Sempre disse que não seria candidato. Talvez tivesse sido melhor definir o candidato logo, mas o atraso acabou dando as condições de criar o bloco. Se o candidato saísse antes, o PT não vinha. Olhando agora como o governo operou, as chances que tínhamos era exatamente esse bloco. Se o bloco tivesse ficado firme, acho que o Arthur era favorito, mas era uma outra eleição. Então, eu acho que de fato errei, mas o erro acabou gerando um acerto, que foi o bloco. Se todo mundo tivesse apoiado o candidato do seu partido, a eleição tinha sido outra. Não era ali que a gente tinha que ganhar a eleição. Se a gente tivesse 85% dos votos do nosso bloco, venceria a eleição. Perdemos no nosso bloco, no DEM, no PSDB, no PSL.”

Saída do DEM

“Quero um partido que eu possa dormir tranquilo de que não apoiará Bolsonaro. Não estou criticando aqueles que defendem. Estou dizendo que nesse projeto não há espaço para mim. Não quero participar de um projeto que respalda todos os atos antidemocráticos. Não estou preocupado com quem vai comigo. Estou preocupado que eu não posso ficar. A questão para onde vou eu terei tempo para construir, conversando com os partidos sobre um projeto para 2022. Agora, a minha necessidade de informar que não estou mais no DEM para mim é muito importante”.

Impeachment

“O julgamento do Impeachment é político e as condições políticas não estão colocadas. Querendo ou não, Bolsonaro tem 30% de ótimo/bom e 40% de ruim/péssimo. A abertura de um impeachment em um momento em que as condições políticas não estão colocadas só o fortaleceria. Tiraríamos da agenda a pandemia e colocaríamos o Impeachment. Talvez seja tudo que o ele quer: Tirar da frente as milhares de mortes pela pandemia. A gente ia jogar para segundo plano a responsabilidade do presidente e do seu ministro da Saúde por todo o desastre na administração dessa crise, por todas as mortes, e íamos ficar todos discutindo um processo que ele provavelmente sairia vencedor e fortalecido do ponto de vista político”.

De olho em 2022

“Quero fazer parte de um projeto em que a gente possa construir uma agenda, um projeto de país que reduza concentração de renda na mão de poucos, que garanta a modernização dos serviços públicos, que garanta ao setor privado as condições para investir no Brasil com segurança. Não acredito que esse governo tenha esse projeto. O projeto do presidente Bolsonaro é completamente diferente. Todas as vezes em que conversei com ele, a agenda prioritária dele era acabar com proteção ambiental de Angra, a questão de armas e do turismo de mergulho afundando navios na costa. Essa era a agenda prioritária dele comigo. As reformas tributária e  administrativa não eram, a modernização do SUS não era, a melhoria do Fundeb não era. Então, eu não posso, tendo conhecido o que o presidente pensa, ser parte disso.”

Futuro do Governo

“Olhando a pandemia e as soluções na parte fiscal, minha impressão é que o governo chegará mais fraco do que está hoje. Mostrou força ao ganhar as duas Casas no Legislativo, mas dependerá da capacidade de articulação em relação a temas de difícil aprovação, até porque o presidente já abriu mão deles. No final do ano, ele disse que não trataria da PEC Emergencial. Eu sempre disse que se não aprovasse, teria que ser algo fora do Orçamento”.

Fonte: O GLOBO

Redação
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